Sabe, eu nunca entendi muito bem o espírito de aventura. Nunca entendi muito bem porque as pessoas em geral tem essa ânsia de viajar, qual é o barato de estar num lugar diferente. Não que eu seja um ranzinza, se eu for passear irei curtir e aproveitar, mas é a motivação que eu tenho uma certa dificuldade de alcançar.
O que eu quero dizer é: o que as pessoas buscam? O que elas acham que vão encontrar quando vão à Europa ou para Porto de Galinhas? Porque muitas vezes, o que realmente motiva pode ser algo bem simples, sabe. Ah, quero ir para cair na farra. Ué, não é mais fácil na sua cidade, com todos os amigos pertos? Ah, quero conhecer outra cultura. Quer mesmo? Quer se envolver, conhecer e ir a fundo? Ou só quer comer uma comida diferente e escapar da violência por um tempo?
Essa sensação veio um pouco mais forte nas últimas semanas porque tenho sentido que, agora que já me adaptei ao lugar, já sei dirigir para todo lado, já sei onde comprar as coisas, quando passa o lixeiro, o dia bom de coisas na TV, quando tem jogo de Rugby, o dia de sair para a balada com os amigos, etc e tal, esse país é igual a qualquer outro. E na hora que eu sentir que a África do Sul não está agregando nada, eu pego o próximo vôo e volto para o Brasil (ou qualquer outro lugar), onde eu posso inventar algo que me agregue experiência.
Não que eu esteja já abandonando isso aqui. Pelo contrário, estou compreendendo melhor o que significa estar por aqui. Por isso estou procurando experiências que posso ter por aqui e que eu não poderia ter em Campinas, por exemplo. Então acho que vou parar de ir nas aulas de Inglês três vezes por semana, e procurar alguma atividade diária, de preferência meio período. De preferência, algo que eu precise falar bastante, aí aproveito e ainda turbino o Inglês (embora ele já deu uma bela turbinada com o dia-a-dia).
Por outro lado, essa sensação de poder ir embora a qualquer momento também é massa, libertadora. Tipo: faça o que tiver que fazer, por puro prazer. Senão, que se dane. Eu acho bem difícil falar se dane quando eu olho pela janela e vejo uma lua cheia fantástica nascendo na baía de Fish Hoek. Mas, é minha opção.
Agora, relendo o post, vejo que isso tem um pouco a ver com a filosofia do budismo. Muitas vezes eu vejo o pessoal criando uma versão ideal do “lá fora” (que pode ser de Ubatuba a Tailândia), achando que a felicidade (ou, na verdade, a satisfação dos desejos) vai aparecer “lá”. Eu acho que entender os desejos, e ver se são reais vontades de crescer ou somente expectativas é fundamental. Vai ver que é por isso que eu adoro poder ficar sossegado em casa, por um som, fazer um rango, ler um livro, jogar videogame, andar na praia, tocar violão, e achar o máximo. As pessoas que eu contava que eu ficava em casa nas minhas férias achava aquilo um sacrilégio. Porque será?
Anyway, amanhã vou para minha última aula na escola de Inglês. Sábado tem jogo dos Springboks, Domingo vou mestrar uma partida on-line de RPG. Segunda vou numa aula de dança em Claremont, e Terça feira tem o Philosophy Café da Helen. E assim que eu achar uma cópia na locadora, vou assistir o Spiderman 3.
Até!