É muito louco que esse blog ainda esteja de pé depois de mais de vinte anos. E não tenho como não registrar um dos maiores eventos do século 21. A pandemia do SARS-COV-2, causador do COVID-19.
A minha situação peculiar da pandemia foi estar numa super bolha, o vale do silício, na Califórnia, Estados Unidos, com duas filhas pequenas e com um emprego que me permitiu trabalhar de casa.
O começo foi meio maluco pra mim. Foi a primeira vez na vida que experimentei uma crise de ansiedade. Eu ficava vendo notícias, acompanhando números, procurando informações no Twitter. Não conseguia dormir direito, tive palpitações e tremedeiras. Falei com uma psicóloga, melhorou. Desconectando mais, essencialmente.
Em Março de 2020 eu escrevi alguns pensamentos para tentar encontrar os gatilhos da minha ansiedade. Alguns deles:
- Isso nunca vai acabar;
- Pessoas que eu conheço pegar COVID e morrer;
- O “normal” acabou;
- A vida das minhas filhas mudou para sempre;
- Meu futuro mudou pra pior;
- Não posso fazer mais as minhas atividades favoritas;
É claro que muitas dessas coisas não foram verdadeiras (emboras outras sim). Os primeiros meses de isolamento foram bem estressantes, cada ida ao mercado era uma aventura angustiante. O trabalho era difícil, e de repente nos vimos os quatro presos dentro de casa quase todo o tempo. Ficar todos juntos não foi difícil, mas precisamos todos a aprender a ficar juntos e encontrar nossos espaços. Em Agosto de 2020, escrevi:
- As crianças nunca estiveram tão felizes (brincando em casa);
- Eu nunca joguei tanto RPG e videogame (minhas atividades favoritas);
- O trabalho é mais ou menos o mesmo (com saudades da comida do escritório);
- Ninguém que eu conheço de perto morreu de COVID-19;
No final do ano, em Dezembro de 2020, adicionei:
- Está tudo bem;
- Fui promovido no trabalho;
- Vou ter um novo gerente no time ano que vem e vai melhorar minha carga de trabalho (ainda não melhorou!);
- Vacinas estão à caminho;
- Meu futuro só melhorou;
Hoje, estou vacinado, a Iara vacinada, as crianças de férias mas indo em colônias de férias e prontas para ir presencialmente para a primeira série, com vacinas à caminho pra elas também. Me tornei um cidadão americano e vou votar em dois meses. Estou indo pro escritório duas vezes por semana. As coisas ainda não estão “normais”, e nunca serão como foram dois anos atrás. Mas acabaram sendo muito melhores do que imaginei que seriam em Março de 2020.
Sei que a situação não é a mesma no resto do mundo, especialmente para meus familiares no Brasil. E ainda sinto muita falta de jogar RPG e jogos de tabuleiro presencialmente, de viajar. Mas acho que o pior da pandemia já passou, e isso é ótimo.